Eu havia desistido desse post. Sim, eu ia deixá-lo para uma próxima oportunidade. Mas não deu. Eu não quero ser juiz e temo muito pelas palavras que eu escrevo aqui em meus posts. Como diria Ricardo Bitun, não vou mexer com a noiva pois o noivo é ciumento. Tudo o que vocês vão ler aqui é uma opinião pessoal, baseada no que eu entendo, hoje, da Bíblia. E eu não pude deixar esse texto de lado, principalmente depois de ler alguns comentários sobre o festival Promessas – evento gospel realizado pela Rede Globo – no Facebook. Quando vejo esse tipo de evento, algo mexe dentro de mim. É como se houvesse um sinal de alerta. Sei que não sou o único e, principalmente por isso, quero compartilhar o que eu penso e ouvir de vocês. Obrigado!
Há uma diferença entre a Igreja de Cristo ocidental e a oriental. Aquela que está no Leste do planeta vive uma outra realidade. São culturas e sociedades diferentes. No oriente-médio, por exemplo, a perseguição contra os Cristãos é terrível e assustadora. Recentemente, temos ouvido os casos relacionados ao Estado Islâmico – grupo muçulmano radical -, que tem assassinado friamente Cristãos professos. Para não mencionar casos de prisão, tortura, isolamento e discriminação. A perseguição na Igreja ocidental é outra. Se há, é pouco evidente. Os dispersos verdadeiros Filhos de Deus do ocidente estão sofrendo discriminação, travam lutas políticas e sociais, e de alguma forma andam por um estreito caminho. Volto a dizer: é pouco evidente.
Quero usar esse post como uma discussão. A Igreja precisa se reciclar e renovar. É necessário que haja uma revisão nos conceitos e na visão (com perdão da redundância). Eu tenho observado alguns pontos e gostaria de compartilhar minha opinião sobre eles. Espero que vocês se sintam livres para me ajudar. De fato, não estou expulsando os vendedores do templo, estou olhando pra dentro de mim e examinando meu próprio coração.
Abaixo, vou comentar seis (possíveis, afinal quero discutir o assunto) que a Igreja está cometendo e que a está afastando de Deus e da Sua verdadeira obra e vontade.
1) Música e eventos Gospel são necessariamente louvor ou adoração a Deus. Quero ser muito criterioso aqui. Já falei sobre esse assunto em dois textos anteriores (aqui e aqui), mas preciso voltar ao tema. Tenho experiência para dizer que esse pensamento é um enorme erro. Já participei como ouvinte e como músico em eventos de pequeno e médio porte. Adorar a Deus não se trata de uma atitude física, mas sim espiritual. Ok, não estou dizendo que não é possível expressar fisicamente a adoração a Deus, pois em inúmeras ocasiões de alegria e júbilo podemos erguer mãos ou até mesmo balançar nossos corpos em adoração. Agora, se pensarmos bem, é até simples concluir que um emaranhado de pessoas, luzes, som, pulação e gritaria não é exatamente o modelo de adoração do Novo Testamento. Embora seja difícil aceitar essa afirmação, não há sequer resquício de respaldo bíblico para tal prática. Por inúmeros motivos. Talvez os mais evidentes sejam a euforia coletiva e a semelhança ao mundo. Os shows gospel estão se adequando ao modelo secular (por secular, entenda tudo o que não é Igreja), com efeitos, luzes, performances e um cachê pesado! Sabe-se que, nas dúvidas, o melhor a se fazer são as perguntas corretas, mesmo que a resposta seja inesperada. O que, afinal, é adorar e louvar a Deus? Conhecemos muito bem o modelo de adoração, sacrifício e honra a Deus do Antigo Testamento. Na nova aliança, Deus deseja adoradores em Espírito e em Verdade. De fato, é questionável até o uso de instrumentos no louvor, mas isso eu deixo para uma polêmica braba em outro momento! O Novo Testamento (NT) fala de alguns momentos musicais (Atos 16:25-28), mas é sucinto. Um show pode ser um show, mas não necessariamente é adoração. É muito difícil adorar a Deus em um ambiente semelhante a uma boate, ou com muito barulho e com muitas luzes. Não muito raramente, um show é o local onde vamos nos divertir, ver um artista e sair satisfeitos. As pessoas gritam o nome do cantor, aguardam ansiosamente sua entrada, veneram e aplaudem os solos de guitarra e as destrezas vocais, sem se dar conta da idolatria que estão exercendo. É muito difícil aceitar e ver isso, quando nossos líderes incentivam esse tipo de comportamento. Se eles disseram, por que não crer?! Por fim, o preço dos shows nos mostra que a adoração é paga e não de graça. Hoje, “adorar” se tornou um negócio rentável. Alguém pode argumentar que um show é a reunião dos irmãos. Não lembro, no entanto, de ter visto Jesus mencionar cachê para quem quer que estivesse entre eles. Quer adorar de verdade? Faça-o em Espírito. Está aberta a discussão! (hehehe)
2) Ser calvinista ou arminiano é importante. Talvez o engano mais patético que os Cristãos estão cometendo é o de definir rótulos e se ater a eles. Ser ou não ser calvinista ou arminiano não significa nada diante de Deus! (Se você não conhece essas posições, há uma infinidade de vídeos e materiais na Internet). O fato é que essas teologias são importantes para entendermos a visão dos reformadores, mas não definem nossa fé em Cristo. Não precisamos crer em Calvino ou Armino para sermos salvos, mas em Jesus, que morreu por nós. Os Cristãos estão agindo de uma forma néscia e repreensível, quando decidem militar por um ou outro lado. De fato, algumas revelações jamais teremos; estas pertencem ao Pai, e saberemos quando com Ele estivermos. É enganoso pensar que nossa posição teológica nos define diante de Deus. Ela pode, infelizmente, até nos afastar dos caminhos do Senhor.
3) A porta é estreita, mas o caminho é largo. Jesus disse: “Como é estreita a porta, e apertado o caminho que leva à vida! São poucos os que a encontram” (Mateus 7:14 NVI). O caminho não alargou! A vida eterna está além da porta estreita. Ele realmente quis dizer o que disse. Sabemos que a salvação é um dom de Deus, através da graça, pela fé. Porém, não entendemos perfeitamente o caminho da salvação, mas sabemos que ele é estreito! Se as coisas estão muito fáceis e nossa vida não produz frutos verdadeiros, pode ser um péssimo sinal de que estamos pelo caminho largo. E esse caminho leva à perdição. É preciso entender que a vida Cristã não é um mar de rosas. Passaremos por provações, tentações, tribulações e perseguições. Esse caminho é extremamente difícil de ser vivido, mas é necessário, pois Jesus assim o quis. Essa questão pode levar a outras mais profundas. Não entraremos nos méritos da salvação, mas o caminho continua sendo apertado. E esse engano tem levado muitos Cristãos a pecarem deliberadamente (me incluo nessa). Por não compreenderem essa verdade dita por Cristo, usam da sua liberdade para dar lugar ao pecado. Vivemos um momento do “tudo pode”, esquecendo-nos de que “nem tudo nos convém” (1 Co 6.12).
4) Podemos pecar pois não perderemos a Salvação. Apesar de ser uma questão de interpretação, “perder a salvação” é um tema polêmico e recorrente. Os argumentos são bons para ambos os lados. No entanto, tenho a sensação de que Satanás tem usado essa dúvida para nos enganar e nos afastar de Deus. Uma vez que eu não posso perder a salvação, posso pecar deliberadamente. A lógica nunca falha (ao menos no âmbito físico). A premissa diz que não perderemos a salvação, nem mesmo se pecarmos. Ora, se podemos nos desviar dos caminhos de Deus e ainda assim sermos salvos, não há sentido em continuar no caminho estreito (lembra do item anterior?). Devemos lembrar com muito cuidado e respeito das Palavras de Cristo. Ele nos ensinou a perseverar até o fim (Mt 24.13), a trilhar um caminho estreito e a abandonarmos o pecado. Paulo ensina, em Romanos – talvez sua carta mais difícil de ser interpretada, por inúmeras questões da salvação -, que a graça não nos dá liberdade para pecar, pois estamos mortos para o pecado (Rm 6). Veja bem: fomos libertos do pecado e não mais vivemos nele. Mesmo que acreditemos que a nossa salvação não pode ser perdida, devemos nos guardar do pecado e nos mantermos em santidade. É a vontade de Deus, expressa por todo o NT (Hb 12.14; 1 Jo 3.24; Jo 14.21). Não estou afirmando, contudo, qualquer posição sobre a salvação. O problema está em pensar dessa forma como liberdade para praticar o pecado.
5) O testemunho e as profecias têm substituído a Palavra de Deus. Esse talvez é o maior engano da Igreja. É olhar para os outros e enxergar a ação do Espírito Santo em tudo que se vê. “Ah, mas fulano… ah, mas o outro fez isso… ah, mas o Espírito Santo falou assim com aquele”. Sério engano! Sim, o ES usa as pessoas e fala através delas, mas isso não anula a Palavra de Deus de forma alguma! Se uma voz nos disser para matarmos alguém, podemos assumir que tal voz é Deus? De forma alguma! Não é porque alguém orou pra ganhar 1 milhão de reais e ganhou, que você deve orar por aquilo. Sabemos o que a Palavra nos diz em diversos assuntos e, mesmo que alguém que é supostamente espiritual ensine o contrário, devemos negar! O mesmo é verdade no sentido contrário. Se a Palavra nos diz algo, mas o testemunho ou alguma pregação nos conta o oposto, devemos rejeitar. Por exemplo, se cremos que o Espírito Santo nos convence do pecado, não vamos dar ouvidos a qualquer doutrina que nos diga o contrário. Paulo diz que não podemos nos deixar levar por qualquer vento de doutrina (Ef 4.14). E esse engano tem-se infiltrado nas igrejas, de modo que as pessoas olham para “grandes pregadores” e sequer comparam suas palavras com o que a Palavra diz. Aceitam pessoas como profetas pelo simples testemunho de mudança de vida. Eu já me portei dessa forma: um testemunho valia por mil palavras. Mas hoje eu vejo que, apesar de Deus transformar profundamente a vida de alguém, essa pessoa ainda pode pecar e errar feio, ensinando doutrinas de homens. Inúmeras vezes, nossa fé é provada diante desse tipo de situação: ou em Deus ou no homem.
6) Podemos trazer o mundo para a Igreja.
“Portanto, sejam imitadores de Deus, como filhos amados.” – Efésios 5:1 (NVI)
“Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele.” – 1 João 2:15 (NVI)
O último engano é talvez o mais nocivo. Se não conhecêssemos os enganos anteriores, bastaria esse para dar o alerta inicial. A Igreja de Cristo está altamente secularizada, muito próxima do mundo. A música, a liturgia, as vestimentas, as práticas e o comportamento já são muito semelhantes ao mundo, não a Cristo. Os textos que citei falam que devemos ser imitadores de Deus e não devemos amar o mundo. Para mim, eles se completam. Ser imitador de Deus não é olhar a “fórmula” desta ou daquela igreja, ou desta e daquela empresa, e aplicar na Igreja de Cristo. É olhar para Deus, para Sua Palavra, e extrair o que há de revelação para a comunhão dos santos. Não amar o mundo é, de fato, andar na contramão desse sistema podre e falido. Se a Igreja anda na mesma direção do mundo, não há diferença e, consequentemente, não há perseguição. Voltamos à introdução deste texto. Se não há perseguição, é porque estamos caminhando de mãos dadas com o mundo e, tragicamente, estamos agradando ao nosso inimigo, Satanás. Enfaticamente, portanto, não podemos trazer o mundo para a Igreja. Não são eventos, baladas, campanhas e técnicas de mercado que irão trazer as pessoas à verdadeira mudança em Cristo; Ele, o próprio, é quem o faz.